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Herpes na infância – O que fazer?


A infecção da herpes é um evento muito comum em nossa sociedade, no dia-a-dia de médicos e dentistas e na vida das crianças também!


CAUSA E TRANSMISSÃO


Essa infecção é causada por um vírus chamado Herpesvirus Simples 1 (HSV-1). Esse vírus está disseminado em uma grande parcela da nossa população e, por isso, muitas pessoas exibem manifestações dessa doença ao longo de toda vida.


O vírus herpes tem a capacidade de infectar o indivíduo e logo em seguida ficar alojado em um nervo quietinho esperando a oportunidade de ser reativado e, assim, gerar as lesões novamente. Sendo assim, ele é transmitido através da saliva contaminada ou por contato direto com lesões ativas. Essa saliva contaminada não existe a todo momento, mas pode existir mesmo sem a presença de lesões evidentes, por isso, muitas vezes não conseguimos explicar como e em que momento ocorreu a contaminação.


SOBRE A INFECÇÃO


As infecções pelo Herpes ocorrem em dois padrões:

Infecção primária e Infecção secundária (também conhecida como recorrente).

A infecção primária é aquela em que o indivíduo entra em contato com o vírus pela primeira vez e ela pode apresentar manifestações clínicas evidentes ou não. Esse padrão é considerado o mais importante em se tratando da infância, pois a maioria das infecções primárias ocorre nesse período da vida.


A infecção secundária é aquela que aparece diversas vezes ao longo da vida, em geral como pequenas bolhas no lábio que se rompem e formam crostas características do vírus herpes.


A infecção primária ocorre mais comumente em crianças de 6 meses a 5 anos de idade e pode variar de totalmente assintomática, ou seja, não ser perceptível que houve uma infecção viral, até uma manifestação dolorida e preocupante. Em alguns casos, as crianças apresentam apenas dor de garganta e febre branda, o que pode simular um resfriado convencional e, muitas vezes, nem é associado à infecção por Herpes.


A manifestação mais exuberante é chamada de Gengivoestomatite Herpética Primária Aguda e é caracterizada por febre, aumento da irritabilidade, falta de apetite, náuseas, aumento de linfonodos no pescoço e, principalmente, lesões orais doloridas.


As lesões orais características dessa fase da doença podem apresentar-se como pequenas bolhas que se rompem e formam múltiplas úlceras rasas cobertas por uma membrana de fibrina amarelada, parecidas com pequenas aftas.


Essas lesões podem aparecer na língua, na gengiva, nos lábios e na garganta. Por serem tão doloridas e múltiplas, comumente a criança se queixa na hora de escovar os dentes ou de comer. Em alguns casos, a gengiva pode estar apenas levemente inchada e avermelhada, mas não deixa de ser dolorida e isso leva à criança a se negar a fazer a higiene bucal adequada.


Essa manifestação ocorre apenas uma vez na vida, no primeiro contato com o vírus, sendo as manifestações seguintes (quando existem) mais brandas e localizadas.

A infecção pelo vírus herpes é autolimitante, o que quer dizer que a manifestação se resolve naturalmente dentro de um período que pode variar de 5 a 7 dias em casos mais brandos até 2 semanas em casos mais graves. Além disso, não existe cura, ou seja, uma vez que o vírus entra em contato e infecta o indivíduo, ele levará o vírus para o resto de sua vida.


Apesar de parecer assustador, nem todas as pessoas que portam esse vírus (como citei anteriormente, grande parcela de nossa população) vão manifestar a doença para sempre. A manifestação recorrente varia tanto quanto a manifestação da infecção primária e existem pessoas que nunca apresentaram nenhum sinal da doença e nunca irão apresentar.


DIAGNÓSTICO


O diagnóstico da infecção por herpes pode ser feito através de identificação de anticorpos no sangue ou através de uma leve raspagem das lesões com uma espécie de escovinha que é conhecida como “citologia esfoliativa”. Esse exame é realizado pelo Estomatologista (um tipo de dentista especialista em doenças de boca).


Geralmente a apresentação clínica da herpes é muito característica e poder ser feita sem necessidade de exames complementares, mas alguns casos podem ser confundidas com outros tipos de doença e a citologia esfoliativa pode ser importante para descartar outros diagnósticos mais preocupantes.


TRATAMENTO


O tratamento da infecção pelo herpes geralmente é baseado apenas na tentativa de reduzir os sintomas de febre e dor com o uso de analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios.


O uso de agentes anestésicos não são recomendadas para crianças devido ao risco de efeitos colaterais e de engasgo. O uso de agentes anti-virais podem ser utilizado, mas em geral trazem pouco benefício, pois para serem eficazes necessitam ser administrados em até 3 dias do início dos sintomas, antes mesmo das bolhas se romperem. Como as crianças começam a se queixar mais na fase em que são formadas as úlceras, raramente é possível identificar essa infecção precocemente.


O que é altamente recomendado nessa fase de lesões agudas pelo vírus da herpes é a alteração da alimentação da criança. É importante inserir uma dieta mais líquida/pastosa, com pouco sal ou temperos fortes para que seja menos dolorida sua ingestão, bem como evitar o consumo de refrigerantes e comidas ácidas.


A higiene oral nessa fase também pode ser difícil e gerar dúvidas nos pais, mas não deve ser negligenciada, pois a falta de higiene gera acúmulo de bactérias e, assim, aumento de inflamação e dor. A higiene oral deve ser feita com uma escova de dentes bem macia e infantil (com a cabeça pequena) e o uso de pasta de dente pode ser mantido (usar apenas uma pequena quantidade de pasta de dente). O importante nesse momento é o movimento delicado e preciso para remover os resíduos da superfície do dente sem machucar a gengiva da criança. É possível que no momento da escovação haja um pouco de sangramento, porém isso não deve ser motivo para interromper a higienização.


Outro cuidado importante durante a manifestação da herpes é tomar cuidado para que a criança não infecte outras crianças e até mesmo não realize auto-infecção. Para isso, as crianças não devem compartilhar talheres e copos, nem colocar a mão na boca, pois com isso, o vírus pode ser levado para outras partes do corpo como nariz, olhos, genitália e até mesmo o dedo pode apresentar uma manifestação da doença, se for contaminado.


Apesar de apresentar uma melhora espontânea na maioria das vezes, alguns casos podem apresentar uma manifestação mais demorada e dolorida, sendo muito importante procurar um dentista especializado o quanto antes para receber as orientações mais adequadas e investigar os motivos dessa apresentação clínica mais exacerbada.


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Dra. Débora Lima Pereira, cirurgiã-dentista formada pela Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ-2011). Possui residência multiprofissional em Estomatologia com ênfase em Oncologia pelo AC Camargo Cancer Center e atualmente cursa o Mestrado em Estomatopatologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba/UNICAMP.

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