Qualquer anormalidade na coluna vertebral do recém-nascido, observado pelos pais, familiares ou cuidadores, deve ser esclarecido na avaliação médica. As anormalidades mais frequentes encontradas estão localizadas no final da coluna vertebral, na região chamada sacro, ou seja, aquela situada logo acima do sulco interglúteo.
Algumas vezes, a criança nasce com anormalidades na pele desta região, sendo um dos exemplos mais comuns, a presença de um “furinho” ou, como mencionado por muitos, uma “covinha”, na pele da região sacral. Podemos encontrar também, lesões cutâneas escuras na pele desta região podendo conter acúmulo de pêlos, conhecido como “tufo piloso” ou hipertricose.
Outro aspecto que chama a atenção dos familiares vem a ser, a presença de assimetria ou desvio da prega do sulco interglúteo, além de qualquer caroço ou aumento de volume localizado na região lombar ou sacral.
O que esses achados podem significar?
Chamamos de disrafismo espinhal, qualquer patologia congênita do tubo neural, podendo ser localizada no canal medular, medula e raizes espinhais. Essas alterações cutâneas observadas no recém nascido, na região lombar ou sacral são sugestivos de disrafismo espinhal. Na maioria das vezes, mesmo com a presença de anormalidades cutâneas citadas acima, a criança apresenta mobilidade e sensibilidade completas dos membros inferiores.
O disrafismo espinhal mais comum, é conhecido como espinha bifida oculta, ou seja, um defeito ósseo de fechamento do arco posterior da quinta vértebra lombar ou da primeira vertebra sacral (foto abaixo).
Para o diagnóstico é necessário exame de imagem da coluna vertebral. Não leva a nenhuma repercussão motora, não causa sintomas e pode estar presente em crianças que apresentam ou não a “covinha” ou o” furinho” na pele na região sacral. Até 20% da população apresenta a espinha bifida oculta, sem nenhuma anormalidade ou sinal cutâneo para isto e, por isso, a denominação “oculta”, muitas vezes, sendo um achado no exame de imagem feito para outro fim.
Na maioria das vezes, o “furinho”na pele, que tem a denominação médica de “dimple”, não se comunica com o canal medular e não exige nenhum cuidado especial.
Então, onde está o problema?
Os problemas existem em crianças que apresentam os sinais cutâneos citados acima, associado a sintomas dolorosos lombares ou deficit neurológico progressivo nos membros inferiores.
Os principais sinais e sintomas são :
– Dor lombar e/ou sacral; – Escoliose de início precoce e progressiva; – Claudicação na marcha (mancar); – Diminuição na circunferência da coxa ou perna em um dos lados do corpo; – Diminuição no tamanho do pé em um dos lados; – Presença de deformidade progressiva, unilateral no pé, sendo o mais comum o surgimento de aumento do arco plantar medial, conhecido como pé cavo. – Surgimento de incontinência urinária.
A presença desses sintomas, associado a alterações cutâneas na região lombar e sacral, nos obriga a fazer a investigação para patologias do canal medular que cursam com ancoramento da medula.
São diversas as possibilidades existentes para justificar esses sintomas sendo que, as mais conhecidas são a diastematomielia, lipoma terminal, espessamento do filum terminal, cursando com aderência da medula em niveis abaixo da sua localização anatômica habitual. Com imagens especificas, conseguimos determinar o diagnóstico e recomendar o tratamento de desancoramento medular com o neurocirurgião.
As deformidades no pé e na coluna vertebral devem ser acompanhadas e tratadas pelo ortopedista pediátrico, após o desancoramento medular. É importante reconhecer que anormalidades cutâneas na linha média dorsal do corpo do bebê, podem significar patologias no tubo neural. Preocupação deve ocorrer quando estão presentes sintomas de origem neurológica, citadas acima. O reconhecimento precoce por parte de qualquer profissional de saúde que avalie a criança, seja o pediatra ou o ortopedista, é fundamental para a recomendação de tratamento definitivo.
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
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