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A adolescência chegou! E agora?


A adolescência é uma fase de transição entre a infância e o ser adulto. Não há como definir, exatamente, quando começa e quando termina esse período pois é variável de pessoa para pessoa. Para ter um parâmetro, costumamos dizer que a adolescência ocorre na faixa dos 10 aos 20 anos.


Antes dessa fase, somos criaturas totalmente dependentes de um outro. Nascemos sem nenhuma autonomia. Até então, tudo nos é ditado: “você não vai sair com essa roupa, porque está frio e você tem que usar um casaco”, “para de brincar agora, porque está na hora de você comer”, “tem que deitar pra dormir antes das 21h”. Todas as nossas ações são mediadas por alguém, sem que, percebamos se essa é a nossa vontade ou não. Os valores vão nos sendo mostrados e nós vamos recebendo tudo sem filtro, pois ainda não temos bagagem suficiente para fazermos avaliações próprias. Na adolescência, entretanto, isso começa a mudar.


Os pais, antes figuras detentoras de sabedoria, passam a ser questionados e todos esses conceitos que eram apenas introjetados (recebidos sem crítica ou avaliação) começam a ser questionados, e postos a baixo por essas “novas pessoas” que surgem.

É quase o que acontece com a lagarta e a borboleta: a lagarta tem um corpo, rasteja, recolhe seu alimento das folhas, faz seu abrigo na terra. Mas em algum momento, coisas estranhas acontecem com seu corpo, um impulso por formar um casulo surge. Nesse período vão surgindo asas, seu corpo afina e ela passa a voar. Todo seu referencial de mundo muda. Ela vai se alimentar de forma diferente, precisar voar ao invés de andar. Todas as suas atividades devem se ajustar a esse novo corpo. E é assim que acontece com o adolescente.


Quando crianças temos um corpo, conhecemos um mundo através desse corpo. Quase que “do nada” vêm os hormônios e começam a mudar tudo isso: “já não posso mais tomar banho com meu irmão ou primo, porque tenho seios e os meninos não devem vê-los”. Meninos passam a ter ereções em situações, que antes, não lhes causava nada. Voz muda, pelos nascem. E o mundo que eles antes viviam “morre” e já não podem mais fazer ou ser como antes. Eles agora são um novo ser, tal como as borboletas, e precisam se descobrir.


Qual o seu papel na sociedade? Quem eles são? “Papai e mamãe dizem que eu sou grandinho(a) demais pra ficar brincado na rua, mas quando eu peço pra ir sozinho(a) no shopping eles dizem que eu sou muito novo(a) pra isso”.  Eles passam a ser confrontados por exigências contraditórias dos pais (e de outros adultos com os quais convivem).


Começa então uma busca por uma nova identidade. Agora ELES querem decidir quem vão ser. Tudo passa a ser desejado, tudo “precisa” (imediatismo adolescente) ser experimentado. É tudo súbito e dramático. São ‘donos da verdade”, juízes morais e filósofos amadores.


Toda essa necessidade por mudar e ser único, diferente, perfeito, abre espaço para se instalarem crises na família e com eles mesmos: quadros depressivos, uso de drogas e até transtornos psiquiátricos (se já houver pré-disposição). É um período encantador, intenso, mas também de muitas angústias, medos  e confusões – tanto para os adolescentes quanto para vocês pais.


A adolescência exige mudanças na estrutura familiar e renegociação de papéis entre os membros, incluindo até mesmo os avós. É muito comum que nessa nova fase, pais renegociem seus casamentos, irmãos questionem suas posições na família, avós e pais mudam a forma de se relacionar. Tudo isso porque essa intensidade do jovem faz com que aflorem questões emocionais dos familiares à volta, que antes se pensava estarem resolvidas. Mães e pais pensam: “Eu não vou ser com ele como meus pais foram comigo”, “Não suportei minha adolescência, vou fazer de tudo para que a do meu filho(a) seja a adolescência dos meus sonhos”, e assim padrões desatualizados vão sendo usados em novas situações.


A flexibilidade é a chave do sucesso para estas relações. Os pais devem estar abertos a essa atualização de seus filhos. A forma como lidam com eles, as cobranças, os valores enraizados, tudo deve ser renegociado. Vamos pensar, por exemplo, nos telefones celulares: nosso aparelho, vira e mexe, pede atualização de sistema, não é mesmo? Se não atualizamos o sistema operacional e aplicativos, o funcionamento dele fica obsoleto e muitas vezes até para de funcionar. Com os filhos acontece igual. As relações têm que se atualizar para que possam continuar funcionando. Não adianta fazer e falar igual a quando eles eram crianças ou igual a quando vocês eram adolescentes. Agora é uma nova fase.


Claro que flexibilidade não significa virar refém de seus filhos e fazer todas as suas vontades. Devemos, sim, nos deixar abertos ao mundo que eles trazem e respeitar suas escolhas, mas limites devem ser postos. Para ter autonomia, o jovem precisa tornar-se cada vez mais responsável por suas próprias decisões, mas com segurança e orientação dos pais.


Diga não, coloque limite de hora pra sair e chegar. Autorize ou desautorize saídas, tenha um bom esquema de distribuição de dinheiro e gastos deles. Eles precisam entender que o mundo que estão descobrindo também envolve responsabilidades, obrigações e respeito. Impor limites também é amar. Dizer não e algumas vezes frustrar os desejos de seus filhos também vai ajudá-los.


Não se esqueçam que vocês devem os ver como pessoas diferentes de vocês. Eles têm o direito de fazer escolhas diferentes das de vocês, ter gostos diferentes dos seus, mesmo sendo da mesma família. Tudo isso deve ser levado em consideração e ser respeitado. Educar e colocar limites envolve, também, aceitar as particularidades de cada um.


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Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).


Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil

Telefone para contato: (21)98320-4159

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