A maioria das crianças caminham com os pés para a frente.
Existem variações da normalidade em que algumas crianças caminham com os pés virados para fora ou virados para dentro, configurando o que chamamos de deformidade rotacional do membro inferior.
Qualquer anormalidade na pisada da criança durante a marcha é um motivo frequente de preocupação dos familiares, necessitando de avaliação médica para esclarecimento dos motivos e da história natural.
As deformidades rotacionais dos membros inferiores:
Importante saber que, nem sempre os pés são os responsáveis pela deformidade vista na marcha.
O responsável pela deformidade pode estar localizado em qualquer segmento do membro inferior, ou seja, pode estar na coxa, perna, pé ou em mais de um lugar ao mesmo tempo.
O exame físico do membro inferior todo da criança, realizado na consulta é o suficiente, na maioria dos casos, para definir o exato local do problema e fazer o prognóstico.
A anatomia do membro inferior:
Chamamos de fêmur o osso da coxa, enquanto que tíbia e fíbula são os ossos da perna, abaixo do joelho.
A marcha com o pé virado para dentro:
O principal responsável por esse padrão de marcha é a perna, ou seja, existe uma deformidade rotacional interna fisiológica da tíbia.
O pé, na maioria das vezes não apresenta anormalidade e o fêmur (osso da coxa), também não.
É muito comum no início da marcha da criança e representa a persistência da da postura dos membros inferiores enquanto na vida intra-uterina.
O prognóstico para a correção progressiva vai depender do idade da criança e do grau da deformidade.
A torção interna femoral:
É outra possibilidade para a marcha com os pés para dentro.
O fêmur é o osso da coxa que se articula com a bacia, formando a articulação do quadril.
Esta articulação realiza movimentos rotacionais interno e externo que devem ser equilibrados para garantir a marcha com os pés para a frente.
Nas crianças, na fase do início da marcha, há uma deformidade em torção interna do fêmur fisiológica, fazendo com que a rotação interna do quadril predomine e, com isso, a criança caminha com os pés para dentro.
Essa deformidade femoral também é originada da postura intra-uterina da criança.
As crianças que apresentam essa deformidade costumam ter o hábito de sentar sobre os pés, em uma posição semelhante a letra “W”, quando vistos por cima.
O tratamento vai depender da idade da criança, do grau de deformidade e do prejuízo motor que está causando.
A frente do pé para dentro:
Conhecido como pé metatarso varo.
Caracteriza-se pela deformidade da borda lateral do pé.
Normalmente, ao olharmos o pé pela face plantar, vemos que a borda lateral deve ser uma linha reta.
Quando a frente do pé está para dentro, a borda lateral deixa de ser uma reta e passa a ser semelhante a letra “C”, ou seja, a borda lateral fica convexa.
Esta deformidade também pode ser a responsável pela marcha com os pés para dentro, sendo muito comum em crianças que tiveram correção parcial de pé torto congênito e que necessitam de tratamento complementar para a correção definitiva do pé.
A conduta médica neste tipo de deformidade vai depender da flexibilidade ou rigidez do pé, bem como da idade da criança e da repercussão negativa que está provocando no desempenho motor.
A marcha com os pés virados para fora:
O principal responsável por essa deformidade é o fêmur (osso da coxa), ou seja, há uma torção externa femoral.
Como citado anteriormente, para que a criança possa caminhar com o pé para frente, é preciso que as rotações interna e externa do quadril estejam equilibradas.
Na marcha com o pé para fora, há um predomínio da rotação externa femoral devido à deformidade em torção externa deste osso.
É comum em crianças com sobrepeso ou obesidade.
Quando a deformidade é simétrica e leve, geralmente não prejudica o desempenho motor.
Assimetria e piora progressiva, podem ser sinal de patologia do quadril no adolescente sendo o diagnóstico precoce muito importante para o tratamento.
O pé plano:
A ausência do arco medial plantar faz com que a frente do pé seja desviada para fora quando a criança pisa.
Neste caso, a borda lateral do pé, que deveria ser uma reta, como citado anteriormente, passa a ser côncava.
O tratamento vai depender da idade da criança, da presença de dor, rigidez do pé, calosidades plantares e da capacidade de utilização de calçados adequadamente.
Torção externa tibial:
É uma das causas para marcha com os pé para fora.
O diagnóstico é feito com exame clínico da criança em que, ao posicionarmos as patelas para frente, observamos desvio acentuado e anômalo do pé, posicionado para fora.
Pode estar associado ao pé plano e também é bastante frequente em crianças com patologias neuromusculares como mielomeningocele e paralisia cerebral.
Conclusões:
Desvios rotacionais dos membros inferiores são bastante comuns em crianças e adolescentes.
O mais importante para determinar o tratamento não é o aspecto da marcha e sim os prejuízos funcionais que esses desvios estão causando.
A simetria entre os membros deve ser observada e o grau da deformidade medido.
Em crianças com patologias neuromusculares (paralisia cerebral ou mielomeningocele), frequentemente, esses desvios rotacionais necessitarão de correção cirúrgica para a melhora no desempenho motor.
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
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