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Crianças Especiais – O tratamento deve ter como objetivo ficar em pé e caminhar?




São muitas as causas que tornam uma criança portadora de necessidades especiais:

– Paralisia cerebral;

– Mielomeningocele;

– Síndrome de Down;

– Autismo;

– Artrogripose;

– Síndromes genéticas;

– Doenças metabólicas;

– Distrofias musculares;

(entre outras).

Em alguns casos, apesar de todas as pesquisas diagnósticas, a causa permanece desconhecida. Mas, independente da causa, uma característica comum das nossas queridas crianças especiais é o atraso no desenvolvimento motor e o acometimento musculoesquelético. Algumas, além do comprometimento motor, têm o envolvimento intelectual, mas independente disso, os objetivos do tratamento não são modificados.

Quando um ortopedista pediátrico avalia uma criança especial, é fundamental que estabeleça com a família um prognóstico do desempenho motor da criança, pois frequentemente isso é um motivo de preocupação dos pais.

Meu filho terá independência para locomoção?

Dados como o diagnóstico primário, as patologias associadas e, principalmente, o grau de comprometimento corporal nos permitem dizer qual será a expectativa motora da criança, e com isso traçar um plano de tratamento que priorize as reais necessidades de cada criança.

Como classificar a capacidade motora de cada criança?

Hoje em dia existe o que chamamos de classificação motora funcional que estabelece o tipo de locomoção da criança levando em consideração o local onde estiver – ou seja, como se desloca no domicílio (5m); como se desloca na escola (50m); como se desloca na comunidade (500m).

Obs. Essa classificação é usada para comunicação entre os profissionais envolvidos no tratamento.

Quais os tipos de marcha existentes?

– As crianças que têm expectativa de caminharem livremente fora do ambiente domiciliar, com ou sem auxílio de aparelhos (conhecidos como órteses, muletas ou andador), são as que têm marcha comunitária.

– As crianças que conseguem caminhar pequenas distâncias em casa, sempre com algum tipo de auxílio – seja de um familiar, apoiando em mobília ou parede – são as que têm marcha domiciliar, conseguindo fazer as transferências da cadeira para outros cômodos, e sendo cadeirantes para maiores distâncias.

– As crianças que só conseguem ficar em pé nas sessões de fisioterapia, com auxílio da profissional, e trocam passos só durante o treinamento fisioterápico exclusivamente, são conhecidas como tendo marcha funcional.

– As crianças que não conseguem qualquer tipo de marcha são as cadeirantes, não andadoras. Geralmente são crianças com envolvimento corporal total e tem pouco controle para sustentar a cabeça.

Qual o objetivo do tratamento ortopédico?

A abordagem ortopédica é independente do tipo de marcha previsto.

O principal é permitir que as articulações permaneçam bem alinhadas para possibilitar a criança seu desempenho motor dentro da expectativa do seu quadro neurológico. Portanto, articulações que perdem sua amplitude de movimento e deformam impedindo que a criança adote a postura ereta, devem ser corrigidas. Então quadris que não esticam, joelhos que ficam rígidos em flexão e pés que ficam rígidos para baixo (postura chamada equino) ou rígidos para cima (postura chamada de talismo), precisam de tratamento sem o qual será impossível permitir a postura ereta e o treino para deslocamento motor.

Corrigir deformidades estigmatizantes, não só para a criança como também para sua família. Afinal, independente do quadro motor, por que deixar pés deformados e condená-los a não usarem calçados adequados como todas as outras crianças? Por que deixar que punhos e mãos fiquem deformados grosseiramente, dificultando inclusive o vestuário da criança, uma vez que vestir camisa se torna difícil, além de dificultar a higiene nas pregas da pele? A coluna vertebral também precisa ser tratada e correções de deformidades (escolioses) são fundamentais para manter o equilíbrio do tronco sentado e permitir o bom desenvolvimento respiratório.

Os quadris são articulações nobres, muito importantes, pois são submetidos ao desequilíbrio dos músculos com tendência ao deslocamento e o tratamento preventivo e reconstrutivo é fundamental em manter a pelve nivelada, permitindo a postura ereta. Além de impedir quadros dolorosos, se não tratados, que prejudicam muito a qualidade de vida das nossas crianças. Além disso, contraturas nos quadris dificultam a abertura de pernas para as trocas de fralda e higiene perineal, dificultando muito a vida da criança e dos seus cuidadores.

Porque investir no posicionamento em pé?

São muitos os benefícios:

– Melhora na qualidade óssea, impedindo a osteoporose por desuso e diminuindo os riscos de fraturas por trauma de baixa intensidade;

– Permite troca de passos e treino de marcha sempre com fisioterapeuta capacitado;

– Melhora a capacidade cardiovascular e respiratória;

– Melhora no equilíbrio do tronco;

– Melhora a autoestima da criança, que consegue se comparar com todas as outras quando consegue ficar em pé.

O ORTOPEDISTA E O FISIOTERAPEUTA

Qual o papel de um e onde entra o outro? A importância da parceria.

No início da vida, o tratamento fisioterápico é fundamental, permitindo que a criança alcance os marcos do desenvolvimento. Porém, em determinado momento da vida, mesmo com toda fisioterapia regular prescrita, as crianças param de adquirir ganhos motores. Essa é a história natural habitual. Coincide com o surgimento de deformidades articulares fixas que não são vencidas só com a fisioterapia. É nesse momento que as cirurgias ortopédicas têm seu papel fundamental no tratamento. As correções cirúrgicas em múltiplos níveis permitem a criança ter suas contraturas corrigidas e com isso retomar seus ganhos motores. A cirurgia muda a história natural do desempenho motor para melhor. A criança ganha aptidões.

Cabe ao fisioterapeuta identificar seu limite, reconhecendo até onde vai o seu papel e ser parceiro do cirurgião ortopedista no trabalho multidisciplinar nas indicações, entendendo os benefícios que a cirurgia proporcionará a criança, sabendo que no pós operatório a fisioterapia será retomada com muito mais facilidade.

O tratamento é longo, os cuidados são constantes e os bons resultados só ocorrem com a combinação de fisioterapia e cirurgia ortopédica nos momentos adequados.

Invistam em seus filhos, mesmo aqueles cuja expectativa é serem cadeirantes para longas distâncias. Ficar em pé e trocar passos, mesmo em pequenas distâncias, faz diferença e facilita a vida da criança. Tratem, permita-os crescerem sem deformidades, mantendo suas articulações protegidas, sem dor e bem posicionadas.

Não se contentem com profissionais que contraindicam qualquer tratamento só pelo fato de serem crianças cadeirantes. Não percam a esperança. Podemos oferecer MUITO para melhoria da qualidade de vida dos nossos pacientes ESPECIAIS.

Esta é Ana Carolina, minha paciente que com muito esforço, dedicação e motivação hoje consegue dar seus primeiros passos com auxílio de um andador. O resultado é muito gratificante, não só para a família, como para todos os profissionais envolvidos no tratamento.







Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.

Consultório: Barra Life

Av. Armando Lombardi, 1000 – sala 231, bloco 2, Barra da Tijuca | Rio de Janeiro

Telefone para contato: 3264-2232/ 3264-2239



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