Várias manifestações podem ocorrer nos joelhos de crianças com Síndrome de Down, sendo as principais:
– Geno valgo (joelhos em” X ” ou tesourinha);
– Instabilidade da patela (osso localizado na frente do joelho), com ou sem deslocamento.
Essas alterações ocorrem devido à frouxidão ligamentar, hipotonia muscular, hipermobilidade e instabilidade articular, comuns na síndrome.
A Instabilidade Patelar
Os problemas relacionados aos mais variados graus de instabilidade da patela são:
– Dor;
– Redução das distâncias caminhadas;
– Mancar constantemente;
– Perda da autonomia motora. As crianças mudam o comportamento, passando a caminhar cada vez menos.
Precisamos estar atentos para avaliação e diagnóstico precoce das anormalidades da articulação femoro-patelar, pois sabemos que patologias nesta articulação têm história natural para piora progressiva, se não tratadas.
O exame dos joelhos:
A avaliação ortopédica de rotina nas crianças com Síndrome de Down, deve incluir um detalhado exame dos joelhos, com ênfase em:
– Alinhamento angular (joelhos em valgo ou varo);
– O arco de movimento que deve ser completo, sem dor ou bloqueios e sem deformidades fixas;
– A patela deve localizar-se na frente do joelho, permanecendo estável durante todo o movimento articular;
– Se durante o movimento do joelho, observamos que a patela sai da sua posição normal e se desloca lateralmente, voltando espontaneamente para sua posição normal, estaremos diante da instabilidade;
– Se ao tentarmos palpar a patela, percebemos que não está localizada na frente do joelho e sim na face lateral da articulação, então estaremos diante da luxação patelar.
A classificação da instabilidade:
A patela pode ser estável e normal (grau 1)
Grau 2 – Instável, ou seja, durante o movimento do joelho o osso sai em direção lateral e retorna espontaneamente para a frente do joelho.
Grau 3 – Luxável. São os casos em que a patela está localizada normalmente na frente do joelho, porém conseguimos empurrar a patela lateralmente ao ponto de sair completamente da sua posição original.
Grau 4 – Redutível. A patela está lateralizada, ou seja, fora da posição normal mas conseguimos posicioná-la com a manipulação.
Grau 5 – Luxada. A patela está lateralizada, sendo impossível reposicioná-la com a manipulação até a sua posição normal.10 a 20% das crianças com Síndrome de Down têm instabilidade patelar, sendo mais prevalente nos meninos.
A severa frouxidão ligamentar associado à hipotonia dos músculos que estabilizam a articulação são os fatores causadores.
As queixas apresentadas:
A apresentação clínica pode ser variável, desde poucos sintomas ou, nos casos sintomáticos teremos quedas frequentes, dor e marcha mancando constantemente.
O grau de instabilidade não está diretamente relacionado aos sintomas.
Na prática, nos casos de mais severos graus de instabilidade, ou seja, os graus 3, 4 e 5, frequentemente há sintomas.
As crianças apresentam limitação nas distâncias caminhadas, pois ocorre diminuição na força do quadríceps (músculo da coxa), quando a patela é instável e isso também favorece as quedas frequentes.
Com a patela deslocada, o músculo da coxa funciona mal, o joelho não estica completamente e vai deformando em valgo (ficando para dentro progressivamente), reduzindo a capacidade de caminhar.
A dor é um sintoma subjetivo e, com frequência, os pacientes com Síndrome de Down têm dificuldade em informar a localização e intensidade da dor.
A história natural:
Quando não reconhecida e tratada adequadamente, a evolução natural é para piora progressiva, com lesão cartilaginosa patelar, femoral e destruição da articulação. O tratamento precoce muda a história natural.
O tratamento:
Nas fases iniciais e no grau 2 de instabilidade, o tratamento conservador com fisioterapia e órteses estabilizadoras da patela está recomendado.
Com falha do tratamento conservador, nos graus 2 e em todos os graus 3, 4 e 5 , o único tratamento existente é o cirúrgico.
Nesses casos, a cirurgia deve ser indicada precocemente, principalmente em crianças jovens, evitando com isso, a piora da lesão cartilaginosa patelar.
Conclusão:
Devemos enfatizar o diagnóstico precoce da instabilidade patelar em Síndrome de Down;
Exame físico anual dos joelhos é fundamental para isso;
Queixas de quedas frequentes e diminuição progressiva das distâncias caminhadas devem ser valorizadas;
Nos casos com exame físico anormal, exames de imagem complementares devem ser feitos para programar o tratamento.
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
Av. Armando Lombardi, 1000 – sala 231, bloco 2, Barra da Tijuca | Rio de Janeiro
Telefone para contato: 3264-2232/ 3264-2239
Criança e Saúde
Criança e Saúde é um site colaborativo que possui a missão de ajudar pessoas a encontrarem informação sobre a saúde dos seus filhos. As informações publicadas neste site têm caráter meramente informativo e não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos e outros especialistas. Todos os direitos reservados ao Criança e Saúde. Proibido a reprodução do conteúdo deste site sem prévia autorização. A Redação do Criança e Saúde não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este último de inteira responsabilidade dos anunciantes.
contato@criancaesaude.com
Comments