A marcha é um conjunto de eventos que ocorrem nos membros inferiores da criança e que permitem a sua locomoção.
Para que a locomoção ocorra de forma eficaz, é preciso que a musculatura funcione adequadamente, as articulações estejam com sua amplitude de movimento livre e sem restrições e que os alinhamentos ósseos estejam corretos.
Qualquer encurtamento muscular, com ou sem limitação na mobilidade articular ou, até mesmo mal alinhamento angular ou rotacional nos ossos dos membros inferiores da criança, poderão produzir uma marcha ineficaz.
Na paralisia cerebral, existe uma classificação motora funcional, conhecida com a sigla GMFCS, onde existem 3 grupos de envolvimento motor que permitem a marcha, seja ela independente ou com auxílio de andadores ou muletas.
As dificuldades na locomoção na criança com paralisia cerebral são inúmeras pois estamos falando de uma patologia que afeta a coordenação motora, o equilíbrio, leva à hipertonia muscular (espasticidade) e, muitas vezes, está acompanhada de distonia, ou seja, movimentos involuntários.
Sabemos que as limitações nos movimentos dos quadris (principalmente a dificuldade na extensão completa), acompanhado ou não de limitação na abertura das pernas, limitação na extensão dos joelhos e deformidade nos pés (principalmente os pés equinos), são problemas que dificultam as distâncias percorridas pelas crianças com paralisia cerebral.
As alterações rotacionais dos ossos dos membros inferiores são responsáveis por anormalidades como marcha com os pés virados para dentro, sendo que na maioria das vezes, isso ocorre por deformidade rotacional interna excessiva femoral (osso da coxa).
A deformidade rotacional externa excessiva da tíbia, osso da perna (segmento do membro inferior localizado abaixo do joelho), também pode ser o responsável por anormalidades na marcha da criança principalmente quando estamos diante de uma criança cujos pés estão apontados para fora quando caminham.
Frequentemente, encontramos várias anormalidades no mesmo membro inferior da criança que contribuem em diversos graus, com os problemas na locomoção
Os padrões de marcha anômalos frequentemente encontrados são:
– Marcha na ponta dos pés ou marcha em equino, onde as crianças, ao caminharem, apoiam apenas a ponta dos pés no solo.
– Marcha com os joelhos fletidos, ou seja, aquela em que a criança não consegue a extensão completa dos joelhos para manter-se em postura ereta. Esse tipo de marcha é também conhecida como marcha da “criança desabada”.
– Marcha em tesoura, ou seja, aquela em que, ao tentar dar o passo, uma perna cruza sobre a outra.
– Marcha com os joelhos rígidos, ou seja, aquela em que a criança não consegue fletir, ou seja, flexionar os joelhos para dar o passo.
Com o exame físico ortopédico específico para a criança espástica, podemos identificar e diagnosticar os problemas na locomoção e com isso, fazer a melhor indicação para cada caso.
Podemos ainda, utilizar o exame de laboratório da marcha em 3D ou 2D, onde a marcha é filmada de frente e de lado, como mais um objeto de analise para as conclusões necessárias.
O tratamento ortopédico visa promover a correção de todos os componentes anômalos nos membros inferiores da criança, melhorando assim, seu desempenho motor e dando mais autonomia para a locomoção em casa, na escola e na comunidade.
Tanto as contraturas musculares, como as deformidades esqueléticas (ósseas), precisam ser corrigidas e, para isso, contamos com as cirurgias em múltiplos níveis.
São cirurgias que envolvem alongamentos tendinosos múltiplos com ou sem transferências tendinosas e as correções ósseas sendo realizadas no mesmo momento, com as osteotomias.
As vantagens das correções múltiplas são que, permitem a correção do membro inferior como um todo no mesmo ato cirúrgico, permitem uma só reabilitação pós-operatória e evitam reinternações frequentes para as correções sucessivas.
O pós-operatório necessita de equipe de fisioterapeutas pediáricos para a reabilitação articular e treino da marcha de forma intensiva.
Obrigado pela atenção.
Um abraço a todos!
Dr. Maurício Rangel é formado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (1994) e médico Ortopedista Pediátrico. Trabalha atualmente em consultórios com atendimento ambulatorial e cirurgias ortopédicas pediátricas eletivas. Especialista em diversas patologias musculoesqueléticas em crianças e adolescentes e cirurgias relacionadas.
Consultório: Barra Life
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