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Síndrome de Down: Promessas de um bebê

Atualizado: 29 de mar. de 2018



“Mamãe e papai,


Vocês já devem ter recebido a notícia de que eu tenho Síndrome de Down. Sei que não sou a criança que vocês imaginaram, mas não se preocupem.  Sei que os pais sempre fazem o melhor que podem – não estou preocupado com isso! Por favor, não tenham medo, pois não há motivo.  Talvez seja um pouquinho mais complicado do que geralmente é com outros bebês, mas vocês pegam o jeito!


Prometo não ser tão diferente dos outros bebês. Prometo que vou chutar a barriguinha da mamãe com toda força que puder, para vocês sentirem que eu estou ao lado de vocês. Prometo tentar não te enjoar muito, mamãe. Ah, papai, desculpa se eu der trabalho com os desejos da mamãe, mas aqui dentro ainda não tem muito o que fazer, então eu sinto muita fominha. Prometo tentar fazer com que ela não te faça ir de madrugada atrás de alguma comida. Prometo quando nascer fazer igual aos outros bebês: encher meus pulmõezinhos e chorar com vontade.


Tirarei muitas noites de sono de vocês.  Mas não será por mal. É isso que os bebês fazem. Talvez eu suje alguns lençóis e roupas com cocô e xixi… como qualquer bebê. Ah!!! Prometo que vocês vão se emocionar, quando eu der os meus primeiros passos – e sei que se eu cambalear, vocês vão estar lá para me proteger.


Prometo um sorriso enorme ao acordar e ver vocês. Prometo abraços cheios de amor, quando meus bracinhos crescerem e correr até vocês, cheio de saudades, quando chegarem do trabalho.


Farei lindos desenhos para colocar na geladeira e também dançarei e emocionarei vocês na festa da escola. Quando eu crescer, posso ter meu trabalho e ganhar meu dinheiro…afinal, muitas pessoas com Síndrome de Down trabalham, casam… mas não se preocupem com isso ainda,  eu sou só um bebezinho.


Como nem tudo são flores, eu também vou fazer algumas besteiras. Farei birras, chorarei para não ir à escola, brigarei com meus amiguinhos, brigarei com vocês, ficarei doente e, provavelmente, vocês precisem me levar no médico muitas vezes – como acontece com qualquer criança.


Talvez eu sofra algum preconceito de quem não entende minha condição, mas sabendo que eu tenho o amor de vocês,  lidar com essas situações não será tão doloroso.

Vocês não precisam enfrentar o mundo por mim, só me dêem amor e apoio que isso me fará ir longe.  Eu não precisarei enfrentar nada, pois não verei as coisas como uma batalha.  Terei força para lidar com o que o mundo mostrar a mim.


Pensando bem, eu também estou um pouco assustado, mas não porque tenho um cromossomo a mais, mas porque viver assusta mesmo.  Ser uma família não é fácil como tentam vender para a gente nos comerciais de margarina.  Ser pai e mãe é muito difícil, e ser filho também.


Nós teremos muitos problemas, passaremos por situações não tão legais, mas também seremos muito felizes e teremos muitas histórias pra contar! Porque é isso que acontece com todas as famílias.


Não se preocupem comigo. Não mais do que se preocupariam com qualquer filho.

Vejo vocês em breve.


Amo vocês.”


Tornar-se pais é um processo, algumas vezes, difícil.  Descobrir-se pai ou mãe de uma criança com Síndrome de Down pode assuntar. Não se culpem por sentirem medo, ou até por ficarem tristes com a notícia. Um diagnóstico é sempre um luto sobre a idéia de um bebê que já foi formada por meses, às vezes até anos, mas depois dessa “onda que tira o chão”, lembre-se: um cromossomo a mais não tira a capacidade de uma criança ser feliz e ter uma vida boa.


Permitam-se ir além do peso de um diagnóstico e para os momentos que estiver muito difícil, se a emoção de receber essa notícia for muito forte e difícil de lidar, não tem problema também! Busque ajuda profissional. Existem muitos grupos terapêuticos para mães e pais. Se ver pelos olhos do outro pode ajudar.


_____


Juliana Pellegrino, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010). É Gestalt-terapeuta pelo Centro de Gestalt-Terapia Sandra Salomão e Terapeuta Familiar Sistêmica Breve pelo Núcleo Pesquisas – Moisés Groisman. Trabalha como Psicoterauta individual de crianças, adolescente e adultos e também faz atendimento familiar e de casal. Trabalha atualmente com intervenção precoce em crianças com desvios no desenvolvimento, com o foco em crianças com possível risco autístico ou já diagnosticadas autistas. Também realiza Grupos Terapêuticos Infantis (enfoque na melhoria de habilidades sociais e estimulo de desenvolvimento) e Grupos Terapêuticos de Adultos (os temas variam de acordo com a demanda, por exemplo: Grupo de apoio à mães de crianças especiais).

Consultório: Largo do Machado, Rio de Janeiro – Brasil

Telefone para contato: (21)98320-4159

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